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Avenida Capitão Meleças, Nº 93 2615-099 Alverca

As lesões no complexo pélvico, historicamente, têm sido um desafio para diagnosticar e tratar.
Uma ampla gama de diagnósticos tem sido descrita, assim como, uma longa lista diferenciada
de opções de tratamento. Esta questão prende-se com o tempo prolongado de ausência da
prática desportiva em desportos tais como: futebol, hóquei no gelo, rugby, basquetebol,
andebol, atletismo ou ténis. Os fenómenos patológicos podem igualmente surgir em
praticantes ocasionais e recreativos. Tendo em conta a maioria dos autores consultados, estes
apresentam valores de incidência que podem variar entre os 0,5% e os 28%.
A dor na virilha é bastante comum em atletas de alta competição, agravando com o esforço
físico, tendo maior incidência naqueles desportos que envolvam corrida, acelerações e
desacelerações, mudanças de direção, pontapear repetidamente e contacto físico. É comum
em várias modalidades mas é encontrada principalmente em desportos como o futebol, o
atletismo e rugby (Ahumada et al. 2005, Kachingwe et al. 2008). A sobrecarga dos membros
inferiores e os movimentos do pé característicos destes desportos, submetem-nos a fortes
desequilíbrios ao nível da bacia, o que implica uma série de compensações (Busquet 2002).
De acordo com Busquet (2002), a “pubalgia” é a expressão de sintomas localizados ao nível
da púbis, com irradiações dolorosas para os adutores, abdominais e região inguinal. Do ponto
de vista fisiopatológico, é descrita como um processo inflamatório que afecta a sínfise púbica,
produzindo alterações condrais e ósseas nesta articulação.

Num clube de futebol, e tendo em conta uma meta análise realizada com 29 estudos que abordaram esta
temática, verificou-se uma incidência maior no sexo masculino (4% a 19% e um rácio de 0,2-2,1 lesões/1000h de
treino), mas a incidência no sexo feminino tem vindo a aumentar com o tempo (2 a 14% e um rácio de 0,1-0,6
lesões/1000h de treino) (Ekstrand and Ringborg 2001; Weir et al. 2015).
Esta diferença significativa entre géneros poderá ser explicada pelo número de mulheres desportistas ser
consideravelmente menor, pelas diferenças anatómicas do canal inguinal, pelas diferentes exigências no treino,
além da melhor adaptação da bacia feminina às pressões biomecânicas (Maffey and Emery 2007).
Num estudo realizado pela UEFA em equipas de elite, que decorreu durante 7 épocas desportivas, foram
registadas 628 tendinopatias dos adutores, que representam 12 a 16% do total das lesões por época. Em relação
aos valores de incidência foram constatados 1,1/1000h (3,5/1000h de jogo e 0,6/1000h de treino), o que
significa que um jogador profissional de futebol poderá atingir uma média de 7 lesões na virilha por época e em
mais de metade destas lesões, demorará pelo menos 1 semana a recuperar.
Alguns autores (Busquet 2002, Jansen et al. 2008, Maffey and Emery 2007) indicam um grupo de fatores
intrínsecos e extrínsecos relacionados com a “pubalgia” . Os intrínsecos, relacionados com a constituição do
próprio atleta (morfótipo), podem acarretar desequilíbrios musculares importantes. A dismetria de membros
inferiores, pé plano ou cavo, joelho valgo e hiperlordose lombar, são igualmente características intrínsecas. Os
fatores extrínsecos estão diretamente relacionados com a prática desportiva e dependem de uma série de
fatores tais como: “overtraining”, “overuse”, falta de mobilidade e ADM reduzidos, utilização de material
inadequado e erros na coordenação e progressão do treino (Busquet 2002, Maffey and Emery 2007).

Análise anatómica e biomecânica

Ao analisarmos a “Balança de Pauwels”, constatamos que, quando os músculos não são capazes de causar uma
força 3x o peso do corpo, a pélvis inclina-se para o lado oposto (signo de Trendlenburg). Assim sendo, e ao
analisarmos as forças vetoriais presentes, a cada passo (sem ser na corrida) que é dado, exercemos uma força
através da anca igual a 4x o peso do nosso corpo.
Neste sentido, é igualmente importante que o atleta ou o praticante de atividade física tenha a capacidade de
realizar uma força adutora bilateral de pelo menos 60% do seu peso corporal. Outra investigação mais recente
realizada pela Sports Medicine & Injury Research Centre da Aspetar Orthopaedic and Sports Medicine Hospital
/Doha-Qatar, concluiu que deverá existir uma razão de 1:3 entre musculatura adutora e abdutora de um mesmo
membro inferior, para futebolistas. Ou seja, a força produzida pelos adutores deverá ser pelo menos 30%
superior à dos abdutores (Thorborg et al. 2011). Ainda de acordo com este autor, a média da força em regime de
contração excêntrica adutora situa-se nos 252N (dp51N) – valores muito abaixo destes colocam o jogador numa
situação de risco de lesão acrescido.

Assim, na atividade desportiva, durante a flexão, adução e rotação da coxa, é necessário uma coativação entre a
parede abdominal, glúteos, e isquiotibiais para se controlar a báscula pélvica (anteversão e retroversão) e a
posição da região lombo-sagrada. Debilidade ou resistência insuficiente leva a uma instabilidade funcional e
sobrecarga das distintas estruturas da pélvis, seja por forças ascendentes, ou descendentes. Neste sentido, é
comum encontrarmos nos atletas:

  • Algumas das mais importantes e relevantes manobras usadas no exame físico e respetivos objetivos são:
    Encurtamento da cadeia posterior da coxa;
    Abdominais/adutores extremamente fortes ou fracos;
    Alteração posicionamento da pélvis;
    Estiramentos na origem dos adutores e abdominais;
    Desequilíbrio muscular da cintura pélvica, que provoca dor e inflamação da sínfise púbica;
    Encurtamentos na musculatura responsável pela manutenção e equilíbrio do complexo lombo-pélvico,
    nomeadamente ao nível da abdução da coxa femoral e rotação externa da anca.

Alguns exemplos de exercícios adequados para a reabilitação física que percorrem as
diferentes fases de recuperação (Acute; Sub Acute; Chronic), trabalho de otimização muscular e aumento da
disponibilidade funcional. Sempre que possível, este processo deve ser auxiliado por escalas de perceção
subjetiva de esforço (escala de Borg adaptada), EVA (para a classificação da dor) e com recurso a um
dinamómetro que nos permite acompanhar a evolução dos valores de força e respetivas curvas entre as
diferentes fases:
Trabalho de abdução e dos rotadores externos da anca com resistências elásticas, com e sem deslocamento;
Adução resistida com contrações isométricas e/ou excêntricas (0 e 45 graus de flexão da anca com dinamómetro);
Ativação e mobilização do complexo lombo-pélvico (flexores da anca) em circuito de contra resistência com
água salgada sem deslocamento;
Abdução e adução com redução do peso corporal em 75%, em circuito de contra resistência com água salgada;

Aumento da mobilidade sacro ilíaca e tónus/capacidade muscular dos glúteos (musculatura rotadora
externa da anca);
Trabalho de ativação do Core “The Pilar” e controlo da musculatura extensora e flexora da anca com
aumento da capacidade funcional e trabalho de resistência dos adutores;
Aumento da força muscular associado a diferentes perfis de contração muscular, com aumento da fase
excêntrica;
Trabalho neuromuscular e de reeducação do movimento, promovendo os alinhamentos corretos.
Coativação e coordenação intramuscular dos flexores da anca com os flexores do joelho e core, com
recrutamento do padrão de movimento desejado;
Ativação neuromuscular com deslocamentos multi-direcionais na agility ladder – aceleration wall drill,
lateral bound e deslocamento lateral entre os cones;
Mobilidade, flexibilidade dinâmica e alongamento ativo como o drop side lunge (com avanço lateral) – movimento
dinâmico da anca com ativação da musculatura agonista e sinergista – alongamento estático do piramidal.
Assim, e para atingirmos a performance desejada e consequente baixo índice de lesões do atleta, devemos ter
sempre em conta que, inerente à performance, está subjacente a capacidade de adotar posições que requerem
mobilidade, de seguida padrões de movimento que requerem controlo da mobilidade, e depois a manifestação da
força e potência que requer um treinador (S&C) capaz de dominar e interligar todos os trabalhos que percorrem
todas as dimensões de força existentes, tendo em conta o perfil individual do atleta, sabendo encontrar o
equilíbrio perfeito entre o estímulo e a recuperação.

Post Author: vivafisiosaude