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Avenida Capitão Meleças, Nº 93 2615-099 Alverca

A dor na região da virilha e da púbis é bastante comum em atletas de alta competição e representa uma das
principais causas para a interrupção prolongada de atividade física. É comum nas modalidades que exijam
mudanças bruscas de direção, movimento de pontapear, acelerações e desacelerações repentinas. É recorrente
nos desportos como o atletismo, mas está sobretudo presente no mundo do futebol.
Os sintomas são de difícil avaliação e, em muitas situações, associados a outras patologias como lesão
osteoarticular coxofemoral, conflito femoroacetabular, hérnia inguinal e lesões musculo-tendinosas na região
adutora. Sendo uma patologia de carácter crónico, a pubalgia é assim definida como uma dor na região
inguino-púbica, normalmente unilateral, com possível irradiação para a parte medial da coxa até ao joelho e
também para a região púbica.

A pubalgia é interpretada tanto pelo atleta como pelo fisioterapeuta como uma lesão “monstra” pelo seu difícil
diagnóstico, tal como pelo tempo necessário para o tratamento conservador (média de 9 meses). Não existe um
consenso concreto na literatura sobre como a pubalgia realmente se inicia e quais são os fatores principais que
predispõem a lesão, no entanto, dentro dos fatores intrínsecos destacam-se: alterações biomecânicas da pélvis;
alterações na musculatura adutora; alterações na musculatura isquiotibial e alterações coxofemorais.
De um forma isolada ou combinada todos estes fatores desencadeiam desequilíbrios musculares importantes
que a longo prazo provocam processos inflamatórios músculo-tendinosos e alterações biomecânicas articulares,
muito observadas em atletas, tais como alteração no posicionamento articular da púbis (osteíte púbica),
alteração do complexo lombo-pélvico (ex. horizontalização do sacro), encurtamento da cadeia posterior
(musculatura isquiotibial), lesões músculo-tendinosas na musculatura adutora (ex. tendinopatias), estrutura
muscular estabilizadora enfraquecida (musculatura abdominal) e alterações na articulação coxofemoral (conflito
femoroacetabular do tipo viking com compressão e encurtamento das cadeias musculares antero-internas da
anca).

Nós, fisioterapeutas, apresentamo-nos como peças fundamentais para recuperação das alterações na pubalgia,
sendo que 95% dos casos são de sucesso, sem necessidade de intervenção cirúrgica. De um modo comum e
transversal, os atletas sobretudo os futebolistas apresentam na sua sintomatologia encurtamentos musculares
importantes (cadeia posterior e musculatura adutora), desequilíbrios de força (musculatura abdominal vs.
musculatura adutora) e alterações posturais (instabilidade no complexo lombo-pélvico). Assim, o processo de
reabilitação conservadora centra-se em 4 objetivos fulcrais.
1º OBJETIVO “estabilidade muscular” – procurar no atleta a maior ponte de equilíbrio entre a musculatura
encurtada (melhorar a amplitude elástica através de flexibilidade) com reforço muscular das
estruturas musculares estabilizadoras (estrutura abdominal).
2º OBJETIVO “melhorar a flexibilidade” de toda a musculatura com relação direta com a púbis ex. cadeia
antero-interna da anca (ver figura 1).
3º OBJETIVO “fortalecimento muscular” das estruturas que permitem estabilização central (core) como as
estruturas abdominais, musculatura extensora da anca, musculatura profunda e musculatura
estabilizadora paravertebral.
4º OBJETIVO “trabalho funcional global” com exercícios pliométricos ajustados à prática desportiva e
específicos às funções que desempenha dentro de campo, com objetivo diminuir os
desequilíbrios musculares.
Dentro dos 4 objetivos fulcrais o raciocínio centra-se em reeducar as estruturas musculares em desequilíbrio,
sendo que trabalho de reeducação postural global é essencial para dinamizar o maior número de estruturas
afetadas. O trabalho postural da cadeia póstero-interna (ver figura 2), permite melhorar o controlo neuromotor
dos adutores que pode ser complementado com trabalho de reforço específico abdominal. O trabalho postural
da cadeia posterior é essencial (ver figura 3) para melhorar o encurtamento comum da cadeia posterior (que
segundo Busquet é a principal causa para a pubalgia). O trabalho postural associado a fortalecimento das
estruturas extensoras da anca permite assegurar a estabilidade muscular necessária para garantir potência e
capacidade na corrida (acelerações vs. desacelerações).
Importante também para o sucesso da recuperação o trabalho de reeducação de gestos específicos que o atleta
executa dentro de campo como correr, mas sobretudo melhorar e ajustar a técnica de remate (no caso dos
futebolistas).

Prevenção para a Pubalgia

Apresentando-se esta patologia com um processo de recuperação lento e variadas estruturas afetadas, torna-se
essencial desenvolver com os atletas um trabalho individual e coletivo com foco na prevenção de lesão e ajustado
às tarefas especificas que executa. Como diz o provérbio “mais vale prevenir que remediar” e no mundo
desportivo a profilaxia deve ser o foco fundamental para qualquer fisioterapeuta.
No que respeita à prevenção de pubalgia relacionada com o futebol existem 6 objetivos fundamentais a serem
aplicados aos atletas longitudinalmente dentro do macrociclo da época desportiva.
1º OBJETIVO Treino de flexibilidade. Desenvolver e aplicar um trabalho constante de flexibilidade aos
grupos musculares envolvidos diretamente e indiretamente com a púbis.
2º OBJETIVO Reeducação constante das cadeias musculares. Promover e manter um trabalho de reforço
muscular específico das estruturas hipo-ativas para sustentação dos fenómenos de
instabilidade articular.

3º OBJETIVO Mobilidade articular geral. Promover exercícios de mobilidade articular com diversos
estímulos para ganho de amplitude de movimento, sobretudo para os membros inferiores.
4º OBJETIVO Treino de coordenação e lateralidade. Promover exercícios bilaterais que possibilitem diminuir
os constantes apoios unipodais e solicitação homolateral. Exercícios de coordenação com
estímulos proprioceptivos lombo-pélvicos de forma a melhorar a estabilidade pélvica.

5º OBJETIVOProporcionar condições extrínsecas adequadas ao exercício físico. Procurar o melhor calçado
e campo de treino adequado para os atletas. Discutir e planear com a equipa técnica volumes,
intensidades e ritmos de treino ajustados aos atletas e às fases competitivas.
6º OBJETIVO Alertar para o cuidado do estado geral de saúde (ex. infeções bucais, alterações nutricionais).
Como fisioterapeutas, a nossa missão no desporto não deve ser condicionada apenas e só a tratar e reabilitar,
mas ser focada em desenvolver em equipa planos de ação com tarefas e exercícios (mobilidade, flexibilidade,
fortalecimento, coordenação, proprioceptividade, pliometria, etc.) que permitam prevenir a patologia e potenciar
a performance geral do atleta.

Post Author: vivafisiosaude